quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

THE PERKS OF BEING A PHILOSOPHER – Céu de Baunilha #2

~leia a primeira parte aqui~

    Nada mais é real, tudo mudou de repente e você se vê diante de um saco de lixo e um campo que seria a coisa mais melancólica que seus olhos já presenciaram exceto pelo imutável céu baunilha. Ele continua lá, como se te observasse de longe decidindo qual seria o próximo passo dessa jornada sem sentido. Você pega o saco negro nas mãos e fecha os olhos mais uma vez tentando raciocinar, mas um cheiro de enxofre cobre o ar e você não consegue mais pensar na paz ou no amor, apenas no ódio. O sentimento mais primitivo, o que mais revela sobre a real natureza humana. O ser humano erra, é inevitável. Isso porque os animais irracionais tem a natureza para tomarem as decisões por eles, nós temos que tomar as nossas. E sempre erramos.
    Não existem escolhas certas ou erradas, no final tudo acaba no mesmo ponto: a morte. Você, no impulso, havia rasgado o saco de lixo e, quando abriu os olhos novamente, o céu estava escuro como uma noite comum. Você buscou pela Lua, mas não a encontrou. Lembrou-se de ler em algum lugar que um ser mágico de um mundo encantado uma vez disse que o homem sábio teme a noite sem luar. E então veio a súbita compreensão: não adiantava fugir do seu destino, o final seria sempre o mesmo. A morte é uma coisa que se pode adiar, mas nunca fugir. Você sabia disso e sabia também que nada na vida fazia sentido. Não entendia que significado teriam uma flor e um saco de lixo embaixo de uma árvore sob a vigilância constante de um belíssimo céu cor de baunilha.
    Na verdade, você nunca entenderá. Eu criei tudo isso, não você. Eu só o conduzi por onde eu queria que a sua mente fosse e você foi meu passageiro, não importa se homem ou mulher, nesse mundo imaginado não existe distinção de sexo. E além do mais, todos os objetos foram fruto da aleatoriedade da minha mente, então posso afirmar que nem eu sei de onde vieram. Vaca. Os pensamentos aleatórios nunca são aleatórios, todos eles vêm de uma parte comum da nossa mente, de onde vêm as memórias. Do outro lado está a criatividade.
    A criatividade que me permitiu criar tudo isso, você também tem. Sério, onde está escrito que eu sou algum tipo de especialista em alguma área? Apague tudo o que você leu vindo de mim, eu não sou nada, eu inventei até a parte dos lados dos cérebros e da mente humana, tudo. ENTENDEU? NADA É REAL, APAGUE TUDO. NÃO DEIXE RESQUÍCIOS OU EU VOU TE DEVORAR ENQUANTO DORME.
    Por favor, permita-me que eu me apresente, sou um homem de riqueza e bom gosto. Estou por aí por longos e longos anos, roubei de muitos homens alma e fé. Meu nome é John Milton e eu sou o diabo. Você, meu filho, virá para o meu lado. Não importa o que faça, a vaidade sempre te trará para mais perto de mim. Eu sou o belo, o atraente. Eu sou o olhar por trás do céu de baunilha que te aquece e vê até o fundo da sua alma. Eu sou o retrato inverso da perfeição que você aprende na igreja, sou a perfeição real, sem filtros morais ou vergonha de parecer louco perante o olhar de falso moralismo das pessoas que no fundo querem apenas ter a coragem que viram demonstrada e desmancham-se de inveja ao perceberem que não são capazes. Elas nunca serão, mas eu e você ainda podemos ser salvos. Eu sou o céu de baunilha e você é minha flor, com o magnífico tom vermelho vivo do seu sangue que foi derramado ao ser atingido pela realidade.
    Prazer em conhecê-lo, espero que adivinhe meu nome. Mas o que te intriga é a natureza do meu jogo. Quanto mais você cava, mais difícil será sair do próprio buraco.

~Jon

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