segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Carta da Semana #11


2 de fevereiro de 1992

Querido amigo,
Pé na estrada era um livro muito bom. Bill não me pediu para escrever um trabalho sobre ele porque, como eu disse, era "uma recompensa". Ele me pediu para visitá-lo em sua sala depois da aula para discutir o livro, e foi o que eu fiz. Ele fez chá, e eu me senti um adulto. Ele até me deixou fumar um cigarro na sala dele, mas me aconselhou a parar de fumar por causa dos riscos para a saúde. Até tinha um folheto na mesa dele, que me deu. Agora uso como marcador de livro.
Achei que Bill e eu íamos conversar sobre o livro, mas terminamos falando de "coisas". Foi ótimo ter tantas discussões. Bill me perguntou sobre Sam e Patrick e meus pais, e eu contei a ele sobre minha carteira de motorista e a conversa no Big Boy. Também contei a ele sobre meu psiquiatra. Mas não falei da festa ou de minha irmã e o namorado. Eles ainda estavam se vendo em segredo, o que minha irmã diz que só "inflamava a paixão".
Depois que falei a Bill de minha vida, pedi que ele falasse da dele. Foi legal também, porque ele não tentou ser legal e se relacionar comigo ou coisa assim. Ele estava sendo ele mesmo. Disse que fez a graduação em uma faculdade do Oeste que não dava notas, o que achei peculiar, mas Bill disse que foi a melhor educação que ele teve. Ele disse que me daria um prospecto de lá quando chegasse a minha hora.
Depois que foi para a Brown University, para a pós-graduação, Bill viajou pela Europa durante algum tempo, e, quando voltou para casa, se filiou ao Teach for America. Quando este ano acabar, ele acha que irá para Nova York e escreverá peças de teatro. Acho que ele ainda é muito novo, embora eu pense que seria rude dizer isso a ele. Perguntei se ele tinha namorada e ele disse que não. Ele pareceu triste ao dizer aquilo, também, mas decidi não me intrometer porque achei que seria muito inconveniente. Depois ele me deu outro livro para ler. Chamava-se Naked Lunch.
Comecei a ler quando cheguei em casa e, para dizer a verdade, não sei do que o cara está falando. Nunca disse isso ao Bill. Sam me disse que William S. Burroughs escreveu o livro quando usava heroína e que eu devia "seguir o fluxo". Então foi o que eu fiz. Ainda não tenho a menor ideia do que ele estava falando, e então desci as escadas para ver televisão com minha irmã.
O programa era Gomer Pyle e minha irmã estava muito quieta e mal-humorada. Tentei conversar com ela, mas ela me disse para calar a boca e deixá-la em paz. Então assisti ao programa por alguns minutos, mas fazia ainda menos sentido para mim do que o livro e decidi fazer meu dever de casa de matemática, o que foi um erro, porque matemática nunca fez sentido para mim.
Fiquei confuso o dia todo.
Então tentei ajudar minha mãe na cozinha, mas deixei cair uma panela e ela me disse para ir ler em meu quarto até meu pai chegar, mas foi a leitura que tinha começado com toda aquela confusão. Por sorte, meu pai chegou em casa antes que eu pegasse o livro de novo, mas ele me disse para parar de "me aboletar nos ombros dele como um macaco" porque ele queria ver o jogo de hóquei. Vi o jogo com ele por algum tempo, mas não conseguia parar de fazer perguntas sobre os países de origem dos jogadores, e ele estava "descansando os olhos", o que significa que estava dormindo, mas não queria me deixar mudar o canal. Então me disse para ver televisão com minha irmã, o que eu fiz, mas ela me disse para ajudar minha mãe na cozinha, o que eu fiz, mas ela me disse para ler em meu quarto. E foi o que eu fiz.
Já li cerca de um terço do livro e até agora está muito bom.
Com amor,
Charlie.

~rod

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